Thích Nhất Hạnh é um monge budista pacifista e escritor vietnamita e um dos mestres do zen-budismo mais conhecidos e respeitados do mundo de hoje.
“Barcarolle” – Lubomyr Melnyck
Por ocasião da Guerra do Vietnam, os mosteiros se defrontaram com a questão de aderir ou não, exclusivamente, à vida contemplativa e continuar a meditar nos mosteiros, ou ajudar a população que sofria sob bombardeios e outras devastações da guerra. Nhat Hanh foi um dos que optaram por fazer as duas coisas, ajudando a fundar o movimento do budismo engajado. Desde então, tem dedicado sua vida ao trabalho de transformação interior para o benefício dos indivíduos e da sociedade.
Em Saigon, no início dos anos 60, Thich Nhat Hanh fundou a Escola de Serviço Social da Juventude, uma organização de apoio popular que passou a se dedicar à reconstrução de aldeias bombardeadas, criação de escolas e centros médicos, reassentamento de famílias desabrigadas, e organizando as cooperativas agrícolas. Reunindo cerca de 10.000 estudantes voluntários, a organização baseou o seu trabalho nos princípios budistas da não-violência e ação compassiva. Apesar da denúncia do governo de sua atividade, Nhat Hanh também fundou uma universidade budista, uma editora e uma revista influente ativista da paz no Vietnã.
Reproduzo abaixo um de seus textos mais lúcidos nos quais aborda a crucial questão da Educação de Jovens, uma das “chagas” das sociedades modernas em que a grande maioria dos valores que nos foram legados por
nossos pais e avós se perdeu na padronização consumista em
que os “nãos” e os limites foram abolidos do receituário adotado pela maioria dos pais e educadores modernos:
“Nós colocamos gente de mais na cadeia, mas se parássemos para pensar, descobriríamos de onde vem a violência. Como é a nossa sociedade? Como as nossas famílias são organizadas? O que é ensinado em nossas escolas? Por que temos que colocar toda a culpa nos jovens? Por que não podemos reconhecer nossa própria co-responsabilidade?
Os jovens agridem a si mesmos e aos outros porque a vida não tem sentido para eles. Se continuarmos a viver dessa forma e a organizar a sociedade como fazemos, continuaremos a produzir milhares de jovens que precisam ser aprisionados.
Ao contemplar nossos filhos, vemos os elementos que os produziram. Eles são como são porque nossa cultura, economia, sociedade e nós mesmos somos do jeito que somos. Não podemos simplesmente culpar nossos filhos quando as coisas não dão certo. Muitas causas e condições contribuíram. Quando soubermos transformar a nós mesmos e a sociedade, nossos filhos também se transformarão.
Os jovens aprendem a escrever, a ler, aprendem matemática, ciências, e outras matérias na escola para ajudá-los a ganhar a vida, mas poucos currículos escolares ensinam os jovens a viver – como lidar com a raiva, como reconciliar conflitos, como respirar, sorrir, como transformar as formações interiores.
A educação necessita de uma revolução. Precisamos incentivar as escolas a ensinar a seus alunos a arte de viver em paz e harmonia. Não é fácil aprender a ler, escrever ou resolver problemas matemáticos, mas as crianças conseguem.
Aprender a respirar, sorrir e transformar a raiva também pode ser difícil, mas é possível. Se ensinarmos às crianças valores adequados, quando elas tiverem apenas doze anos já saberão viver em harmonia com as outras pessoas.”
(Thich Nhat Hanh em A essência dos ensinamentos de Buda )
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!